A Venda de uma Empresa é a Melhor Forma de Gerar Cashflow?

Quando um empresário é confrontado com a realidade de que, na melhor das hipóteses, recebe 4x o seu EBITDA na venda da sua empresa, invariavelmente me perguntam:

“Qual é o meu benefício em vender? Por esse valor trabalho mais quatro anos e recebo esse dinheiro”

A pergunta subjacente é: será melhor ter uma empresa ou capital?

A resposta é simples: depende.

Vender a Empresa ou Manter?

Já analisei quase uma centena de empresas em Portugal, com EBITDA entre 100.000 euros e 1.700.000 euros. Ainda estou para encontrar o dono da empresa que retire mais de 100.000€ em dinheiro todos os anos.

Mas podem-me dizer que compram carros, casas etc. Está certo, e também é verdade que um carro de 100.000€ não são cem mil euros.

De todas as empresas que analiso diariamente, não há uma única que tenha pago dividendos aos sócios nos últimos 3 anos. A maior parte das empresas lucrativas tem um excesso de caixa, ou uma grande reinvestimento na própria empresa.

Porque é que os donos tiram pouco ou nenhum dinheiro para si mesmos? Se criou a sua empresa provavelmente foi para ter mais liberdade e ganhar mais dinheiro.

A probabilidade de um dono retirar 2  milhões de euros, de uma empresa que gera 500.000 de EBITDA em 4 anos é ZERO. A menos que descapitalize a empresa, ou venda algum ativo.

A verdade é que uma empresa que gera 500.000 euros de EBITDA, permite que os sócios retirem cerca de 100.000 euros por ano, se o fizerem. Para isso é provável que os sócios trabalhem mais do que qualquer um dos seus colaboradores, que tirem poucas ou nenhumas férias e que sejam conscientes de que abrandar o ritmo durante 6 meses ou 1 ano pode levar a empresa à insolvência.

A maior parte dos empresários nem sequer tem sócios para partilhar o fardo.

EBITDA não é cashflow?

Para os leitores mais atentos a resposta a esta pergunta deveria ser óbvia: NÃO.

O EBITDA (ou lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) é um lucro de certa forma teórico.

Na prática

Uma empresa com 500.000 euros de EBITDA é comum ter 50.000 a 100.000 eruos de gastos com depreciação.

A depreciação é uma forma de abater nos impostos investimento em ativos de desgaste: imóveis, máquinas, carros, computadores, etc… A depreciação é um custo real, porque um ativo tem um ciclo de vida, é uma forma de garantir que as empresas continuam a investir sem penalizar nos impostos.

A amortização é o mesmo que depreciação mas aplica-se a bens intangíveis, por ex. software ou propriedade intelectual.

Na prática: 500.000€ EBITDA - 75.000€ = 425.000€ EBIT

Gastos de financiamento

Nesta área as empresas portuguesas sólidas têm uma particularidade interessante, se é verdade que os donos não retiram dividendos, também é verdade que os empréstimos de uma forma geral são mal vistos. Por essa razão os encargos com juros ou semelhantes costumam ser relativamente baixos. Na ordem dos 5.000 a 10.000 euros. Isto é pode ser indicador de duas coisas:

  1. Dificuldade no financiamento

  2. Excesso de caixa.

Na prática: 425.000€ EBIT - 5.000€ Juros = 420.000€ Rendimento Antes de Imposto

Imposto sobre Rendimento de pessoas Coletivas (IRC)

Por uma questão de simplificação vamos considerar o IRC à taxa de 21%, ou seja 88.200 euros.

Na prática: 420.000€ RAI - 88.200€ IRC = 331.800€ Resultado líquido do exercício

Rendimento Líquido Individual

Se o proprietário retirar todo o lucro líquido através de dividendos (assumindo que gerou cashflow suficiente para o fazer - um GRANDE se) paga 28% em sede de IRS, ou seja: 92.900 euros.

Na prática: 331.800€ - 92.900€ IRS =  238.900€ líquidos

Este é o valor máximo típico (podem haver particularidades para cada negócio) que um empresário pode retirar de uma empresa que gera 500.000 euros de EBITDA, ou seja para alcançar os 2 milhoes de euros demoraria 7.2 anos (assumindo que paga 28% sobre metade das mais valias na venda da empresa).

Qual a probabilidade de uma empresa manter os lucros durante 7 anos, se um empresário retirar todos os lucros todos os anos? ZERO.

O mais provável é que nunca chegue a conseguir retirar todo esse valor, ou demorar mais de 10 anos, num processo de morte lenta.

Um múltiplo de quatro pelo seu negócio ainda lhe parece pouco?

Por ser vendida com base num múltiplo do EBITDA, a venda de uma empresa torna-se a melhor forma de gerar cashflow para um empresário. Mesmo que o múltiplo seja mais baixo, esta verdade mantém-se.

Quando é que compensa manter o seu negócio?

Se estiver numa fase de crescimento (ou seja a crescer 20% ao ano ou mais) e ainda se sentir com disposição para continuar a trabalhar, então deve continuar a fazê-lo, porque vai aumentar o valor da sua empresa.

Mas lembre-se, o foco deve estar sempre em aumentar o valor da sua empresa. Isto se quiser maximizar o dinheiro que ganha.

Para isso é fundamental começar a medir o valor da sua empresa anualmente, para além da faturação e lucros. Aliás estas são as métricas básicas que compõem os objetivos das empresas com quem trabalho: faturação, lucro e avaliação (através do múltiplo).

As empresas criam riqueza para todos os envolvidos, mas normalmente os donos só colhem esses louros quando passam o testemunho do legado que construiram durante décadas, através de uma venda.

Quer aprender como aumentar o valor da sua empresa e transformá-lo em dinheiro na sua conta?

Pode entrar em contacto comigo, através do meu site ou de mensagem privada.

Paz e Bem,

Lourenço Czernin

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